Terapia da Fala

O meu filho respira pela boca! Será normal?

Cada vez mais nos têm chegado à terapia, crianças com comprometimento da respiração nasal. Será porque efetivamente os pais e outros profissionais de saúde estão mais alerta para estas questões? Ou será porque efetivamente há um número crescente de casos?

De facto, a respiração é a nossa função vital e automática que nos garante a nossa sobrevivência, sendo por isso a primeira função ativada após o nascimento. E, quando nascemos, a nossa respiração é realizada através do nariz, salvo raras exceções sejam elas por alterações anatómicas, funcionais… Quem nunca teve bebés pequeninos constipados que se vêm aflitos por não conseguirem respirar pelo nariz? Parece que não sabem utilizar a boca para respirar certo?

É esta respiração nasal que nos vai fornecer a qualidade do ar inspirado, protegendo as nossas vias aéreas e favorecendo o correto posicionamento dos órgãos fonoarticulatórios, garantindo um desenvolvimento adequado das estruturas craniofaciais e respiratórias. Tudo isto vai promover ainda o adequado funcionamento das funções estomatognáticas (fala, respiração, mastigação, sucção e deglutição).

Ainda assim, em muitos indivíduos (crianças ou adultos) a tendência fisiológica de respirar pelo nariz pode ser afetada por uma obstrução nasal (como por exemplo a hipertrofia dos adenoides), por presença de alergias, por fraqueza dos músculos faciais ou até por hábitos nocivos (utilização prolongada de chupeta, chuchar no dedo…). Perante estas alterações, o nosso organismo, como inteligente que é, vai dar-nos uma outra hipótese para mantermos a nossa respiração funcional. E essa alternativa é a respiração oral (pela boca), sendo esta uma condição patológica.

Quais as consequências da respiração oral?

Entre as consequências da respiração oral, podem-se destacar as alterações no crescimento craniofacial, na correta produção dos sons da fala, na alimentação, na postura corporal, na qualidade do sono…

De um modo geral, o respirador oral apresenta/pode apresentar:

  • Alterações na postura, no tónus e mobilidade dos lábios, da língua e das bochechas levando a uma eficácia comprometida da mastigação, deglutição e fala;
  • Flacidez dos músculos faciais;
  • Face longa, palato alto e estreito, alterações da oclusão dentária como a mordida cruzada ou mordida aberta (sendo esta mais comum);
  • Atresia do maxilar;
  • Postura anteriorizada da cabeça (cabeça mais para a frente em relação aos ombros), desequilíbrio corporal;
  • Alterações na produção dos sons da fala por posição incorreta da língua na cavidade oral;
  • Sonos irregulares;
  • Sialorreia (baba) durante atividades do dia-a-dia ou durante a noite;
  • Roncopatia (ressonar);
  • Apneia do sono;
  • Olheiras mais evidentes;
  • Retrognatia (queixo mais recuado).

É de notar ainda que, se a criança apresentar períodos de maior irritabilidade, dores de cabeça, cansaço, dificuldades de concentração que possam levar a dificuldades de aprendizagem, podem estar relacionados com os distúrbios do sono. Isto porque, se respirar com a boca aberta e a língua adotar uma postura incorreta, poderá levar a uma oxigenação insuficiente que se irá refletir nas atividades da vida diária.

Qual o papel do Terapeuta da Fala nas crianças com respiração oral?

Uma das diversas áreas de intervenção do Terapeuta da Fala é a Motricidade Orofacial.

Neste campo são avaliadas a musculatura facial e intraoral e todo o seu equilíbrio e harmonia nas funções do sistema estomatognático. O TF, perante uma alteração miofuncional oral irá integrar-se numa equipa multidisciplinar, normalmente composta pelo médico otorrinolaringologista, alergologista, médico dentista, osteopata ou outro profissional que seja relevante para melhoria global da criança.

Irá ainda desenvolver estratégias que irão promover o equilíbrio muscular e o desempenho das funções orais através de exercícios específicos, adequados e personalizados a cada caso sempre com o objetivo major de melhorar o desenvolvimento da criança.

Importante: O diagnóstico e intervenção na respiração oral, como em todas as áreas do desenvolvimento, devem ser realizados o mais cedo possível de forma a minimizar as consequências provocadas por este padrão.

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