
Mãe a tempo inteiro. Em confinamento.
Olá! Daqui hoje fala-vos uma mãe a tempo inteiro. Em confinamento.
Cada vez mais sinto necessidade de falar convosco sobre isto. Isto de ser mãe a tempo “quase” inteiro. E digo “quase” porque consigo conciliar algumas consultas privadas enquanto o pai segura as rédeas. Mas se formos ver a percentagem de tempo que estou em casa a tomar conta do Henrique e o tempo que passo fora, claramente que sou uma mãe a tempo inteiro.
Para quem não conhece muito bem a nossa história, vou fazer um mini-resumo: Henrique nasceu em Abril de 2019. Fiquei em casa de licença de maternidade alargada com ele até Janeiro de 2020. Nesse mesmo mês entrou para a creche e eu voltei ao meu trabalho. Em Abril de 2020 voltei a ficar em casa com ele (supostamente seria por uns dois, três meses no máximo) mas, ainda cá estou!
E se na altura não foi por opção que ficámos em casa mas sim porque assim teve de ser, agora digo-vos: É por opção e para o conseguir proteger a ele e a nós desta maldita pandemia o mais que conseguirmos. Se estamos todos sujeitos a apanhar o maldito bicho? Claramente que sim. Mas enquanto puder ter a minha consciência mais tranquila assim o farei.
Mas, Sofia, como é que aguentas? Quais são os maiores desafios que enfrentas?
Deixem-me dizer-vos que me fazem esta pergunta muitas muitas vezes. E digo-vos que é um desafio diário! Não é fácil. Garanto-vos. Para quem acha que tirei umas valentes férias, lamento informar-vos mas não. Não estou de férias. Estou em casa, com o meu filho, a tratar dele e da casa todos os santos dias e com o marido em teletrabalho e…guess what…confinados (como a maioria de vocês!)
Apesar de ter a sorte de poder ter tomado esta opção, há dias do camandro em que só me apetece sair de casa a gritar, ter 1 hora só para mim (nem que fosse estar no carro a olhar para o horizonte e a ouvir uma música como eu tanto gostava) e estar. Só estar. Mas, isso não é possível. Claro que tento ao máximo fazer algo que gosto todos os dias mas nem sempre é exequível.
E sim, eu queixo-me. Porque apesar de ser uma sortuda em muita coisa, tenho o direito de me queixar. Como todas nós. Porque estou cansada. E como li uma vez (perdoem-me que não me lembro onde o li…), mãe cansada não é sinónimo de estar cansada de ser mãe!
Neste nosso mundo, tento diariamente tirar 30 minutos durante o dia para mim ou para fazer algo que gosto. Ou tomo um banho mais prolongado, ou vou cozinhar sozinha, ou vejo um episódio de uma série…enfim algo que me apeteça nesse dia.
Um bebé de 21 meses torna-se cada vez mais exigente. E isso é um óptimo sinal. Sinal de saúde, de vitalidade, de crescimento… No entanto, essa exigência e ansiedade passa dele para nós e de nós para ele e é deveras difícil acompanhar todas essas exigências, a maior parte delas acompanhadas de birras, todos os dias!
Já consigo imaginar as vossas perguntas: “Mas não é suposto que uma mãe aguente isso tudo? Não é a sua obrigação? Se ela não aguenta quem aguentará?”
Tudo muito verdade. Mas eu adoro estar em casa com ele. De acompanhar todos os seus passos e conquistas.
Tínhamos uma creche à disposição (agora não pelo confinamento e porque transferimos a matrícula para o próximo ano…novidade para quem não sabia!) Mas quero acreditar que lhe estou a dar o melhor que posso apesar de ter dias de achar que a socialização com os pares da mesma idade lhe fazia muito bem! No entanto, é a nossa decisão que prevalece e qualquer uma que fosse ia sempre achar que podia estar a fazer algo melhor!
As pessoas, a sociedade, têm de parar de fazer pressão para as mães serem perfeitas. Não as há. Tenho dias em que tenho a perfeita noção de que o Henrique está “quase” em auto-gestão. E está tudo bem. Porquê? Porque não consigo satisfazer-lhe 100% das suas necessidades mesmo estando em casa. E porque preciso do meu espaço! Nunca lhe faltou nem faltará amor, carinho, compreensão, companheirismo, empatia e a satisfação das suas necessidades básicas. Isso claramente que está garantido. Mas, se tenho um dia mau e nesse dia não me apetece brincar muito com ele, qual é o problema? E se tenho um dia mau e ele está 1h ou 2h em frente à TV? Não vem mal ao mundo (não sei onde é que já ouvi isto…) por isso! E se tenho roupa para estender, para passar, casa para limpar, artigos para escrever, conteúdos para produzir, assuntos para tratar…vou fazer isto quando? Quando estiver a dormir a sesta? Sim pode ser…mas a sesta é tão curta que pouco dá para fazer. Então é à noite? Lamento, depois de jantar não o meu cérebro desliga. Vou fazendo tudo o que consigo durante o dia e o Henrique já gosta muito de participar nas tarefas domésticas (a andar atrás de mim é top!) Estou neste momento a escrever isto e a interiorizar que não posso ter sentimentos de culpa porque faço o meu melhor todos os dias.
O confinamento não veio ajudar claramente. Nós saíamos muitas vezes para ir passear, desanuviar, brincar, ver coisas novas… e agora tirando a nossa rua, pouco mais ele conhece!
Agora questão final: Eu não estou em teletrabalho e estou 100% disponível para ele. Tenho dias de dar em louca. Nem consigo imaginar como é que vocês se sentem em teletrabalho e com crianças pequenas em casa. Deve ser o desespero muitas vezes e deve implicar uma logística inimaginável.
Por mais que vos custe, tentem pensar que não vai passar de uma fase. E para quem não está em teletrabalho e tem bebés ou crianças pequenas em casa pela questão do encerramento das creches, como se sentem?
Desabafem aqui! Estamos todas juntas! E não se esqueçam nunca… São as melhores mães do mundo para os vossos pequenos! Digam não ao sentimento de culpa!
Dica: Tentem tirar todos os dias nem que seja 30 minutos para fazerem algo que gostam e que vos faça sentir bem como mulher!
2 Comments
Joana
Revejo me em cada frase deste texto estou em casa com o meu filho desde que nasceu com alguns problemas de saúde, tem 5 anos já passamos por muito enquanto família mas tudo o que enfrentamos tornou nos mais fortes e ainda tenho de levar com a pressão da sociedade por ele ter 5 anos e ainda não falar quase nada… Enfim o confinamento até está a ser uma boa fase beijinhos
Ana Cunha
Enquanto pais (neste caso, fala apenas a mãe) realmente passamos por muito! Só pedimos saúde para os nossos filhos e na verdade isso é o melhor que podemos ter! Mas não deixamos de nos sentir cansadas quando tudo está bem. Sinto que se continua a romantizar a maternidade! Um beijinho e obrigada por estar desse lado!