Pediatria

Crianças, Écrans & Confinamento

Com pais e crianças em casa em pleno confinamento, surgem muitas dúvidas de como conciliar pais em teletrabalho e crianças inactivas, fechadas em casa.

E a verdade é que esta pode bem ser uma mistura explosiva. A maioria dos pais, com afazeres inadiáveis, acaba por recorrer aos écrans como forma de conseguir, nem que seja temporariamente, entreter as crianças.

E o problema é este, com o confinamento, o sedentarismo e o uso de écrans atingiram máximos nunca vistos. Já antes da pandemia, a realidade portuguesa era largamente pior que a realidade europeia: o sedentarismo é transversal e 70% das crianças tinha um tempo diário inferior a 120 minutos de exposição solar directa. Dito de outra forma, os presos nas prisões portuguesas têm maior exposição solar do que as nossas crianças.

E realmente, para crianças fechadas 24h sobre 24h no mesmo espaço, sem terem um espaço exterior seguro para gastar a sua energia, com os parques infantis encerrados e em pleno inverno (não que isso seja uma desculpa, já que países com climas bem mais rigorosos conseguem ter tempos de permanência exterior muito superiores aos portugueses), a proibição de écrans abaixo dos 18 meses e o limite máximo de 1 hora por dia para as crianças a partir dos 2 anos até aos 5 anos é praticamente impossível de cumprir.

Porque não falamos de tablets e telemóveis. Também falamos de televisão. Como controlar esta situação quando os televisores portugueses têm por hábito estar ligados nos canais que transmitem desenhos animados em contínuo?

Já no caso das crianças em idade escolar, temo bem que os limites de uso de écrans seja largamente acima do recomendado, já que o conteúdo programático escolar será providenciado com recurso à telescola. E aqui ressalvar que uma família dita convencional, com dois adultos e duas crianças, caso os pais estejam em teletrabalho e as duas crianças em telescola: será que têm disponíveis 4 computadores?

E acima disto, temos os adolescentes, que não só estão permanentemente conectados ao seu telemóvel, têm telescola e sobretudo, frequentam as redes sociais.

No grupo dos adolescentes sabemos que o risco de manisfestações depressivas sofre uma distribuição em U no que toca às redes sociais: adolescentes excluídos das redes, sentem-se excluídos e inferiorizados em relação aos pares, mas adolescentes com grande presença nas redes sociais, pelo efeito comparativo com outras vidas de aspecto mais glamouroso, também vêm agravado este risco.

Assim, no contexto deste confinamento, temo bem que a situação nacional do que toca ao sedentarismo e uso de écrans sofra um agravamento notável. Mas não se conseguem fazer milagres quando os recursos são escassos e as famílias portuguesas estão sobrecarregadas de afazeres e responsabilidades.

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