Odontopediatria

As doenças mais comuns na saúde oral da criança

A saúde oral é fundamental para a saúde em geral, bem-estar e qualidade de vida.
Na população infantil esta condição torna-se ainda mais relevante, uma vez que uma pobre saúde oral pode ter graves repercussões no desenvolvimento da criança.
As doenças orais constituem um dos principais problemas de saúde da população infantil e juvenil.


A cárie dentária é a doença crónica mais prevalente na infância, com grande impacto socioeconómico devido ao custo associado aos tratamentos, pelas suas sequelas locais e gerais e absentismo no trabalho e na escola.


Denomina-se cárie precoce da infância (CPI) quando diagnosticada em crianças pequenas em idade pré́-escolar (até aos 6 anos). Crianças com CPI na dentição de leite geralmente apresentam mais tarde cáries na dentição permanente.
Esta patologia pode desenvolver-se logo a partir da erupção do primeiro dente, e surge essencialmente devido aos ácidos que determinadas bactérias produzem na presença de restos de alimentos, principalmente açúcares. Estes ácidos vão enfraquecendo o esmalte, podendo originar cáries sobre diversas formas: desde manchas brancas ou mesmo cavidades.


Estas bactérias cariogénicas geralmente surgem na cavidade oral da criança após o nascimento, essencialmente por transmissão através da mãe, aquando a partilha de objetos com a sua saliva. Os fatores de risco desta doença são vários: dieta cariogénica, ausência ou défice dos cuidados de higiene oral, presença de bactérias cariogénicas na cavidade oral, não utilização de pastas dentífricas com a quantidade de flúor adequada e contexto familiar de carência socioeconómica. Há ainda que ter especial atenção com hábitos que promovam um prolongado período de contacto entre os açúcares, as bactérias e as superfícies dentárias, e que favorecem assim o desenvolvimento de lesões de cárie (ex: xaropes antes de deitar, biberão com leite ou outros líquidos açucarados ou amamentação antes de deitar ou durante a noite sem lavar os dentes a seguir, colocar açúcar na chupeta).


É importante um acompanhamento periódico pelo médico dentista, de forma a existir uma vigilância ativa, com a deteção o mais precoce possível de lesões de cárie que possam surgir, bem como a instituição e monitorização de hábitos e medidas preventivas a serem adotadas pelos pais/cuidadores. O controlo dos principais fatores etiológicos pode ter influência no grau de gravidade da doença.

Apesar da cárie dentária ser a patologia oral mais conhecida e prevalente na infância, está longe de ser a única.
Há outros problemas que podem afetar a saúde oral do seu filho nos primeiros anos de vida:

Gengivite


Tal como os adultos, as crianças também podem sofrer de problemas nas gengivas.
Normalmente, surgem devido a uma higienização inadequada, que favorece a acumulação de placa bacteriana junto à gengiva, promovendo assim a sua inflamação.
Se não for convenientemente tratada, esta patologia pode levar a hemorragia severa das gengivas, com dor aquando a escovagem e a mastigação, e evoluir para cenários muito mais graves, como a periodontite ou até a perda de dentes, comprometendo bastante a dentição definitiva futura.

Traumatismos dentários


É muito frequente nas crianças a ocorrência de traumatismos dentários, seja durante os primeiros anos de vida, em que a criança começa a aprender a equilibrar-se e a dar os primeiros passos, seja depois quando se torna mais irrequieta, em que corre e as brincadeiras também se tornam mais violentas e radicais.
Sempre que ocorrer um traumatismo dentário, mesmo que não ocorra fratura dentária, a criança deve ser observada por um Médico Dentista, de forma a avaliar possíveis danos consequentes do traumatismo, inclusive através de uma radiografia.
Por baixo de um dente de leite, há sempre um dente definitivo em formação, pelo que é necessária especial atenção neste tipo de situações.

• Bruxismo


Também conhecido como o hábito de ranger ou apertar os dentes. Podem ocorrer durante o dia ou à noite, e geralmente de forma inconsciente, coincidente com períodos de maior stress ou ansiedade.
Além do stress, geralmente associado a alguma tensão nervosa, podem ser várias as causas. Em alguns casos as crianças podem apertar ou ranger os dentes devido ao incorreto alinhamento dentário, outras podem fazê-lo como resposta a uma dor de dentes ou de ouvidos, doenças alérgicas como rinite, sinusite, asma, hipertrofia de adenoides.
Algumas crianças hiperativas, com paralisia cerebral, ou que tomem determinados medicamentos podem também desenvolver bruxismo.
É importante avaliar a situação e tentar perceber porque ocorre. Pode ser um sinal de alarme para outro tipo de situações. Este problema é geralmente ultrapassado na adolescência. A maioria das crianças pára de
ranger e apertar os dentes quando os dentes de leite são substituídos pela dentição definitiva.


Quistos de erupção


O quisto de erupção é um quisto benigno que se desenvolve à volta da coroa de um dente em erupção, impedindo o seu rompimento através da gengiva.
Surge geralmente associado aos dentes de leite ou nos molares definitivos.
Geralmente é de cor azul, e a cor deve-se à presença de sangue no interior do quisto. São geralmente assintomáticos, mas podem causar dor e/ou sangramento se estiverem infetados.
Na maioria dos casos o quisto desaparece de forma espontânea com a erupção do dente envolvido. Não havendo resolução espontânea, há́ necessidade de uma pequena intervenção cirúrgica.

• Doença mãos-pés-boca


A infeção surge inicialmente com dor de garganta, febre, mal-estar e perda de apetite.
Mais tarde, 1 a 2 dias depois, aparecem bolhas na língua e parte interna dos lábios e bochechas, que podem degenerar em úlceras dolorosas. De seguida aparecem vesículas (pequenas bolhas) dolorosas nas palmas das mãos e nas solas dos pés.
Não se devem rebentar estas vesículas, que acabam por desaparecer sozinhas em 7 a 10 dias.

Gengivoestomatite Herpética


É uma doença viral, causada por um vírus da família Herpes (Vírus Herpes Simplex).
Caracteriza-se pelo aparecimento de febre alta, associada a sensação de dor de garganta e na mucosa oral e/ou irritabilidade, recusa em comer, salivação excessiva e mau hálito.

O diagnóstico é clínico, pela observação de lesões tipo aftas em número e tamanho variável, muito sangrantes e dolorosas ao toque. Embora possam ocorrer em qualquer zona da cavidade oral, estas aparecem mais frequentemente na gengiva e língua. Associa-se ainda inflamação e inchaço generalizado da gengiva.
O tratamento consiste no alívio dos sintomas que causam desconforto na criança, através de antipiréticos ou analgésicos, da aplicação tópica de produtos desinfetantes e, sobretudo, no reforço hídrico oral, de forma a manter a criança hidratada, com preferência para dieta mole e fria, sem alimentos ácidos.
Esta doença afeta sobretudo crianças entre os 6 meses e os 5 anos.
A duração da doença é de 4 a 10 dias, e resolve sem deixar cicatrizes.

Escarlatina


Começa geralmente por uma amigdalite ou faringite, por ser na garganta que a bactéria (Streptococcus pyogenes) se fixa, uma vez que é aí que encontra condições ótimas para o seu desenvolvimento.
No início da infeção é comum que a língua, amígdalas e parte anterior da faringe apresentem um revestimento esbranquiçado ou amarelado ou uma aparência avermelhada e pontilhada com manchas esbranquiçadas ou amareladas, com presença de pus. Após cerca de 3 dias, a língua adquire o aspeto de uma framboesa: vermelha e irregular. É a denominada “língua de framboesa” (língua vermelha brilhante).
O rosto fica frequentemente com as bochechas vermelhas e uma zona pálida ao redor da boca.
O tratamento da escarlatina é obrigatoriamente feito com recurso a antibiótico.


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