Diário da Mãe

A culpa de não brincares com o teu bebé

A culpa é algo que persegue as mães desde que o bebé nasce. Existe sempre algum ponto em que nos sentimos culpadas por determinada coisa que fazemos ou não fazemos. Numa altura em que vivemos confinados às quatro paredes da nossa casa, a culpa por não dedicarmos 100% do nosso tempo e atenção ao bebé ataca.

Crescemos com a ideia intrínseca que temos que fazer tudo o que precisamos enquanto o bebé dorme porque assim que acorde a nossa atenção deve ser direccionada para ele, única e exclusivamente. Aliás, se não o fizeres, és uma mãe desligada, desinteressada, egoísta (a culpa…). Deixa-me contar-te um pequeno segredo: estares constantemente a falar ou brincar com o teu bebé não é assim tão positivo para ele quando não é para ti. ‘Como assim?’ Assim mesmo. O bebé necessita de momentos dele para descobrir os objectos, o mundo, as dinâmicas. Para se descobrir a si mesmo també, sem interferências. Para lidar com o que descobre e estar focado e tu precisas de poder ter os teus momentos também, seja no mesmo espaço que o bebé ou não, mas a fazer outras tarefas sem ser no contra-relógio da sesta.

Guia-te pelo bom senso, pelo equilíbrio. Falar, brincar, cantar, interagires com o teu bebé é importante? Claro que sim. Mas em conta, peso e medida.

Nada disto significa que o bebé não deva ter oportunidades e ambientes que o estimulem. Não significa que seja positivo deixar o bebé numa espreguiçadeira tempos sem fim e sem lhe falares. Claro que o bebé necessita de ter coisas que o estimulem à sua volta, da mesma forma que necessita de espaço para as explorar ou até mesmo só para estar e sentir emoções como tédio. Temos, enquanto pais, muito medo que o nosso bebé se sinta entediado e não nos ache fascinantes. Tédio é uma emoção tão importante de sentir quanto outra qualquer, frustração, irritação… Enquanto adulta sentes-te seguramente entediada de vez em quando e está tudo bem, existem dias assim e provavelmente até tens os teus truques para te entreter. Com o teu bebé irá acontecer o mesmo se lhe for dada a oportunidade de sentir tédio e conhecer-se. De nada adianta criares um bebé que nunca se sentiu entediado e frustrado, porque esse será o adulto de amanhã que continuará sem saber o que fazer quando esses sentimentos lhe baterem à porta.

Para além disto, muitas vezes, por já não sabermos ao certo o que mais fazer com o nosso bebé, apresentamos demasiadas coisas e estímulos ao mesmo tempo, ou seja, surge um tapete de atividades com luzes, músicas, bonecos suspensos e cores. Surges ainda tu a bater palmas, cantar e falar. Surge ainda por vezes mais um brinquedo extra e todo o movimento corporal do bebé e teu. Consegues imaginar a overdose de estímulos na cabeça do bebé? Consegues imaginar a quantidade de coisas que ele nem vai aprender, absorver ou processar porque nem tem capacidade para tudo ao mesmo tempo? E sim, tudo isso irá afectar outras rotinas como a das sestas e sonos nocturnos.

Guia-te pelo bom senso, pelo equilíbrio. Falar, brincar, cantar, interagires com o teu bebé é importante? Claro que sim. Mas em conta, peso e medida. Não necessitas de estar em constante interacção com o teu bebé. Não é isso que vai ditar a sua felicidade nem inclusive o seu ritmo de desenvolvimento! Não tenhas medo que se entedie, sinta frustrado ou tenha dias mais calmos no que a actividades e brincadeiras diz respeito. O mais provável é ele nem se sentir entediado e estar só mais calmo e concentrado em alguma coisa do mundo e descobertas dele, mas, mesmo que se sinta, tédio é uma emoção que faz parte de nós, que deve ser descoberta e lidada (e acredita em mim, se ele se sentir MESMO muito entediado, vai arranjar forma de exigir a tua atenção).

Não és pior mãe por deixar o bebé a brincar sozinho ou por um período ou outro numa espreguiçadeira, estejas em confinamento ou não. O bebé precisa do seu espaço e Deus sabe que tu também. Uma coisa não anula a outra.

O equilíbrio costuma ser a melhor opção.

Por: Tânia BorgesPé Descalço

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